O famoso detetive Sherlock Holmes, embora de tão familiar pareça pertencer ao mundo real, é na verdade um personagem fictício gerado pela mente do médico e escritor britânico Sir Arthur Conan Doyle. Ele nasceu no interior da trama do livro Um Estudo em Vermelho, lançado de forma inédita pela revista Beeton’s Christmas Annual, em 1887. Pesquisado no site da Sherlock Holmes do Brasil.
O Fenômeno Sherlock Holmes
Sherlock Holmes, criado pelo escocês Sir Arthur Conan Doyle, apareceu pela primeira vez na história “Um Estudo em Vermelho”, editada pela revista Beeton’s Christmas Annual no Natal de 1887 e, desde então, tem fascinado muita gente, sendo o personagem da literatura mundial que recebeu o maior número de adaptações, estudos e especulações. Doyle acabou por criar um personagem que apaixonou em pouco tempo o mundo inteiro. Leitores juvenis, adultos e velhos de todos os idiomas adquiriram o vício de Holmes, transformando esta figura de ficção numa espécie de psicotrópico, que vem funcionando para as multidões há mais de cem anos.
São milhares as pessoas que, durante anos e anos, acreditaram embevecidamente que Sherlock Holmes existia em carne e osso e morava numa rua de Londres (Baker Street), assim como também de carne e osso seria o Doutor Watson, associado de Holmes, cronista de grande parte dos casos nos quais o Detetive Mestre atuou. O caso é único na história: a criatura Holmes engoliu o criador Doyle. O imaginário Sherlock Holmes é a ficção mais famosa em todos os continentes, superando, certamente, os outros dois de maior renome universal: Robinson Crusoé e Dom Quixote.
O total fascínio de Sherlock Holmes sobre os leitores ainda não obteve de nenhum psicólogo uma interpretação satisfatória. Acredita o poeta contemporâneo Wystan Auden, que o encanto fabuloso de Holmes sobre as imaginações se deva ao fato de que o detetive viveu (ou vive) em estado de graça: é, antes de tudo, um gênio e, em segundo lugar, um gênio dotado de curiosidade científica.
Sherlock Holmes é o que se costuma chamar hoje de uma inteligência eletrônica. Seu cérebro funciona como um mecanismo de alta sofisticação que houvesse sido programado para decifrar crimes. Fora do campo criminal, a capacidade mental de Sherlock é comum e, em muitos aspectos, deficiente, sem penetração. Fora de sua especialidade, o nosso herói é, como na figuração convencional dos gênios, um homem desamparado. Por outro lado, quando não se ocupa de um caso, Sherlock Holmes cai em estados depressivos que ele só consegue aliviar com a injeção de estupefacientes. Essa incurável tendência à depressão psíquica deve ser também mais um atrativo moderno, e ao mesmo tempo romântico, da personalidade do detetive de Regent’s Park. A alma de Beethoven ou de Byron, a par do que produziram estes dois, em música e poesia, deflagrou a imaginação de todo um século. Fenômeno muito parecido ocorreu e ocorre com a alma de Sherlock Holmes no século vinte.
Os fatos são contundentes. O povo tomou conta de Holmes. Chegou a crer na sua existência. Nenhum personagem de ficção tem no mundo mais vasta bibliografia, com toda uma gama de estudos, dos mais ingênuos aos mais eruditos. Ninguém, fictício ou real, foi alvo de tantas representações teatrais, cinematográficas, em histórias em quadrinhos, em palavras cruzadas, em seriados de televisão etc. Ninguém multiplicou um gênero (conto e romance policial) em proporções de tiragens tão astronômicas. Basta lembrar-se que, sem Sherlock Holmes, é incerto imaginar a penetração fora do comum de Agatha Christie; sem esquecer que nos Estados Unidos, onde a literatura policial se transformou em imensa indústria de consumo, o ponto de partida está nas aventuras de Sherlock Holmes, e não em algumas narrativas de Edgar Alan Poe. Este não inflamou o povão americano; o outro, sim. Os sherlockianos existiram desde a primeira hora; e continuam surgindo no fluir das gerações. Holmes não tem propriamente leitores, tem devotos espalhados por todos os países, sem limites precisos de classe social e de cultura.
Por todos esses motivos, e por outros que poderiam entrar nessa lista, Sherlock Holmes é, repetimos, a ficção mais famosa de todo o mundo. Elementar, meu caro Watson!
Características do Detetive Mestre
Ao longo de toda a história das adaptações e representações de Sherlock Holmes, as características físicas originais descritas no Cânone sofreram diversas modificações. De todo modo, conforme descrito por Watson em Um Estudo em Vermelho, “a sua própria pessoa e aparência eram tais que chamavam atenção do observador mais casual. Tinha muito mais de um metro e oitenta de altura, e era tão excessivamente magro que parecia muito mais alto. Seus olhos eram agudos e penetrantes (…), e o nariz fino de águia dava a todo seu semblante um ar de vivacidade e decisão. O queixo tinha o formato proeminente e quadrado, que marca o homem de determinação. Suas mãos estavam invariavelmente manchadas de tinta e materiais químicos, no entanto, era dotado de extraordinária leveza no toque.”
Apesar de não se exercitar por vontade própria, estava sempre em forma, era um ótimo corredor e dotado de uma força pela qual, segundo Watson, poucos poderiam dar-lhe crédito. Era “excepcionalmente forte nos dedos” (“A Coroa de Berilos”) e tinha um “aperto de aço” (“Seu Último Adeus”). Além disso, era muito hábil no boxe, esgrima e baritsu, um sistema japonês de defesa pessoal.
Mestre do disfarce, podia passar-se despercebido até pelos seus mais próximos. “Ele está seguindo alguém. Ontem, era um operário procurando emprego; hoje, uma velha senhora” (“A Pedra Mazarino”). E “não era uma mera mudança de roupa – sua expressão, suas maneiras, até sua própria alma parecia variar com cada nova porção que ele assumia. O teatro perdeu um grande ator, assim como a ciência perdeu um perspicaz estudioso,
Em decorrência de seus esforços empregados num caso, Holmes mantinha hábitos inconstantes e deveras incomuns. Podia trabalhar vivamente num problema por vários dias, sem qualquer descanso e pouca alimentação. Entretanto, na ausência de casos, que eram uma ocupação para sua mente inquieta, queixava-se da monotonia exaustiva, recusando-se a levantar da cama por dias seguidos. Na tentativa de amenizar suas ocasionais crises depressivas, recorria ao uso de estupefacientes, hábito posteriormente abandonado devido à forte insistência de seu amigo e associado, Dr. Watson.
No caso “O Pé do Diabo”, Watson lamenta que o estado de saúde não é alvo de grande preocupação de seu amigo. Sua constituição de ferro sofreu um colapso devido a uma prostração nervosa, em 1887, e dezesseis anos mais tarde, Holmes foi obrigado a retirar-se em benefício de um merecido descanso.
A paixão pela química
Dentre os mais variados campos e assuntos estudados por Holmes, nenhum fascinou-o mais do que a química. Usava seus conhecimentos na área tanto para auxiliar na elucidação de casos, como por puro hobby, misturando compostos e fazendo experiências. Como escrito por Watson, em “O Signo dos Quatro”: “[Ele] mal respondia às minhas perguntas, ocupando-se toda a noite com uma abstrusa análise química que exigia o aquecimento de retortas e a destilação de vapores, cujo cheiro quase me enxotou para a rua. Altas horas da noite, eu ainda ouvia o tinir dos seus tubos de ensaio, indicando-me que ele continuava empenhado no seu experimento mal cheiroso”.
A irregularidade nas refeições
Quando trabalhando num caso, Holmes freqüentemente dispensava qualquer alimento, acreditando: “as faculdades tornam-se refinadas quando você as priva de alimento. Ora, certamente, meu caro Watson, como um médico, você deve admitir que o que a digestão ganha em fornecimento de sangue é perda tamanha para o cérebro. E eu sou um cérebro, Watson, o resto de mim é um mero apêndice. Assim, é o cérebro que devo considerar” (“A Pedra Mazarino”). Entretanto, Sherlock Holmes possuía um refinado paladar culinário, e quando o tempo lhe permitia, apreciava um bom café da manhã.
O ouvido para a música
O detetive apreciava músicas de todos os tipos, incluindo ópera, concertos e até mesmo motetes. A apreciação de Holmes pela música é clara em vários episódios. O mais notório era seu gosto pelo violino e o cuidado com que mantinha o instrumento, diferentemente dos demais objetos que jaziam espalhados por seus aposentos, no 221B Baker Street.
Sua habilidade com o violino era tal que, no caso “A Pedra Mazarino”, ouvintes não discerniam sua música da tocada num gravador. A pedido de Watson, ele tocaria algum dos lieder de Mendelssohn, bem como criaria peças extemporâneas.
A descrença nas mulheres
Ao longo de todo o Cânone, o leitor pode comprovar o descrédito e o desgosto de Holmes pelas mulheres e pelo casamento. Abaixo, seguem alguns exemplos:
“Nunca se pode confiar demasiado nas mulheres… nem nas melhores delas.” – (O Signo dos Quatro)
“Eu não sou um fanático admirador da espécie feminina.” – (O Vale do Terror)
“O Coração e a mente de uma mulher são enigmas insolúveis para o homem.” – (O Cliente Ilustre)
Essa atitude tem sido alvo de muitas especulações e análises por parte de diversos estudiosos em todo o mundo. Uma das possíveis explicações foi apresentada por Nicholas Meyer, no seu “The Seven Per-Cent Solution”, que mostra um suposto trauma psicológico adquirido por Holmes em sua juventude (maiores detalhes na seção Segredos do Cânone).
Ainda assim, o detetive foi forçado a admitir um sustentável respeito e estima por Irene Adler, a mulher. “Para Sherlock Holmes, ela é sempre a mulher. Raras vezes o ouvi mencioná-la de outra maneira. Para seus olhos, ela eclipsava e se sobrepunha às demais mulheres. Não que ele estivesse apaixonado por Irene Adler. Todas as emoções, e particularmente essa, aborreciam sua mente fria, precisa, mas admiravelmente equilibrada” (“Um Escândalo na Boêmia”).
A Ciência da Dedução
“Sou o mais alto tribunal de apelação em matéria de pesquisa criminal. Quando Gregson, ou Lestrade, ou Athelney Jones se vêem em maus lençóis, como aliás é seu estado normal, o assunto me é apresentado. Examino os dados, como um técnico, e dou um parecer de especialista. Não procuro honras nesses meus trabalhos. Meu nome não aparece nos jornais. O trabalho em si, o prazer de achar um campo para as minhas faculdades, específicas, é a maior recompensa.” (O Signo dos Quatro)
Na prática de seu ofício, Holmes acreditava que “a detecção é, ou deveria ser, uma ciência exata”. O sistema que Holmes usava, e constantemente aperfeiçoava ao longo de sua carreira, elevou-o ao topo de todos os detetives semelhantes. Seus métodos, segundo ele, baseavam-se em três princípios básicos – observação, dedução e conhecimento.
Observação
Durante todo o Cânone, Holmes explica seus métodos a um estupefato Watson: “As coisas aparentemente mais insignificantes são as de maior importância” ou “Você conhece meus métodos, é baseado na observação das coisas pequeninas”.
Sua obsessão em prestar atenção aos detalhes fez dele uma figura formidável na cena do crime, o que espantava os policiais devido a seus hábitos peculiares. Em Um Estudo em Vermelho, por exemplo:
“Enquanto falava, Holmes tirou uma trena e uma lente redonda do bolso. Com esses dois instrumentos, andou silenciosamente pela sala, ora parando, ora se ajoelhando, e uma vez deitando-se no chão. Tão absorto estava no seu exame que parecia ter esquecido de nossa presença, pois sussurrava para si mesmo o tempo todo, produzindo uma saraivada de exclamações, gemidos e assobios que sugeriam encorajamento e esperança. Ao observá-lo, vinha-me irreversivelmente a imagem de um cão de caça puro-sangue bem treinado, quando se lança para cima e para baixo, ganindo de ansiedade, até encontrar o rasto perdido.”
Tendo feito suas observações, Holmes tinha pouca paciência por aqueles que não viam ou recusavam-se ver as pistas e evidências descobertas por ele. “Você vê, mas não observa”, dizia.
Dedução
O segundo método de Holmes baseava-se na observação cuidadosa das pistas e evidências coletadas na primeira fase. Através da dedução, poder-se-ia formular teorias e hipóteses, ponderando sobre os detalhes mais importantes de um caso. “É da maior importância, na arte da dedução, saber distinguir, dentre os vários fatos, quais são os de vital importância”.
Uma vez coletados, todos os fatos, pistas e dados são dispostos lado a lado para serem, então, analisados em conjunto. Holmes, então, iria sentar-se e estudar todos os fatos por horas a fio, como em “O Cão dos Baskervilles”, onde ele “ponderou sobre cada pedaço de evidência, construiu teorias alternativas, comparou uma com a outra e discerniu os pontos essenciais daqueles que eram imateriais”. No caso “O Homem do Lábio Torcido”, o detetive analisou o caso durante toda uma noite, consumindo uma pilha de fumo. O resultado, a solução correta.
De suma importância na análise dedutiva, é a habilidade do observador de permanecer lógico e inteiramente objetivo. Saber “aproximar-se do caso com a mente completamente clara, o que é sempre uma vantagem”. Assim, Holmes considerava um erro concluir precocemente perante os dados – você acaba por distorcê-los para que se encaixem em suas teorias. “Tenho um costume de nunca ter qualquer pré-conceito e de seguir naturalmente para onde quer que os fatos me levem” (“O Enigma de Reigate”).
“[O caso] pode parecer apontar diretamente para uma única direção, mas se você mudar um pouco seu ponto de vista, é possível que descubra-o mirando uma coisa completamente diferente” (“O Mistério do Vale Boscombe”).
Em síntese, vale uma de suas mais famosas máximas: “Quando elimina-se o impossível, o que resta, por mais improvável que pareça, tem de ser a verdade” (“O Signo dos Quatro”).
Conhecimento
No início de sua carreira como detetive consultor, por volta de 1878, Holmes aparentemente reconheceu suas falhas e lapsos no conhecimento dos fatos, e preparou-se para coletar informações das mais variadas.
Na época que conheceu o Dr. Watson, em 1881, seu conhecimento de venenos, crimes, criminosos e uma gama de assuntos relacionados, tinha tornado-se enorme. Juntamente com sua capacidade incomum de retenção dos fatos, ele era provavelmente o indivíduo mais bem informado de seu tempo, apesar de seu conhecimento centrar-se em determinadas áreas e assuntos.
Sobre seu próprio conhecimento, ele escreveu, em “A Juba do Leão”: “Possuo um vasto acervo de conhecimentos incomuns, que não seguem normas científicas, mas que são muito úteis aos propósitos do meu trabalho.” Como exemplo, algumas das monografias escritas por Holmes, “Sobre a Distinção de Cinzas de Vários Tabacos”, “Sobre a Datação de Manuscritos”, “Rasteando Pegadas” e “O Uso de Cães na Detecção”.
Esse conhecimento acumulado por vezes fornecia o elemento final para a conclusão de um mistério.
Resumo Histórico
Infelizmente, pouco sabemos com certeza sobre detalhes da vida do Detetive Mestre antes da profissão de detetive consultor. Algumas das poucas informações que temos a esse respeito são, em sua maioria, suposições baseadas em fragmentos e pistas espalhados por todo o Cânone, concluídos por estudiosos da Obra de Conan Doyle. Estudiosos esses que vasculham incansavelmente cada canto do Cânone, procurando dados, fatos e revelações sobre a secreta e nebulosa vida de Sherlock Holmes.
Sherlock Holmes, de acordo com o próprio detetive, era descendente de fidalgos rurais “que aparentemente levaram a mesma vida peculiar à sua classe”. Além disso, sua avó era irmã do artista francês Vernet. Segundo Matthew Bunson, em seu “Encyclopedia Sherlockiana”, duas interpretações podem ser feitas dessas declarações: a frase “aparentemente levaram” aponta a possibilidade do jovem Holmes ter crescido num lugar distante de seus pais, talvez numa escola pública ou até mesmo na América; a outra hipótese, Holmes ter passado de fato sua juventude com os pais, no campo, possivelmente recebendo apropriada educação de um tutor particular (Moriarty?). Nesse ponto, Holmes provavelmente vinha cultivando um crescente desgosto pelo campo, onde os crimes que detectava passavam impunes. Daí, anos mais tarde, uma mudança para a metrópole.
Holmes nasceu por volta do ano de 1854, possivelmente no dia 6 de Janeiro, na província londrina de Surrey. Essa data é estimada e defendida, entre outros, pelo falecido sherlockiano William S. Baring-Gould.
Já na Universidade, Holmes recebeu os conselhos do pai de Victor Trevor, seu único amigo durante os dois anos passados na faculdade – “todos os detetives similares pareceriam crianças em suas mãos. Esse é seu objetivo, senhor, e você pode levar em conta a palavra de um homem que já viu muito desse mundo”. Foi, então, convencido de suas habilidades e oportunidades, que Holmes percebeu que podia transformar o que antes sempre fora um hobby em uma profissão. Partiu, assim, para Londres a fim de se estabelecer como o primeiro Detetive Consultor do mundo, entre os anos de 1877 e 1878.
Fora aqueles casos presumivelmente solucionados quando ele ainda estava na Universidade, e portanto durante sua juventude, o primeiro caso no qual seus serviços estiveram empenhados fora o incidente do Glória Scott. Esse, resolvido antes de sua partida para Londres. Uma vez em Londres, Holmes estabeleceu-se à Montague Street e iniciou sua longa carreira de detecção.
Embora obtivesse sucesso na maioria dos casos, Holmes não era perfeito e admitiu, no caso “As Cinco Sementes de Laranja”, “Fui derrotado quatro vezes – três por homens, e uma vez por uma mulher”.
Caso a caso, ele crescia em importância, tanto entre os criminosos quanto entre os policiais da Scotland Yard. Em 1881, já estava auxiliando pessoalmente a Scotland Yard quando solicitado. Um fato que demonstra seu crescente sucesso ficou claro pelo seu desejo posterior de encontrar novas acomodações; embora não estivesse financeiramente independente, visto que buscava um companheiro para a divisão dos quartos.
Em Janeiro de 1881, Sherlock Holmes e o Dr. John Watson se conhecem, e passam a dividir o apartamento 221B de Baker Street. Pouco depois, Watson pessoalmente descobre as habilidades analíticas do seu companheiro, passando a registrar as inesquecíveis façanhas do detetive: “Seus méritos deviam ser publicamente reconhecidos. Você deveria publicar um relato do caso. Se não o fizer, eu o farei por você.”
Os treze anos seguintes levaram Holmes da total obscuridade para uma posição de renome como o detetive do mundo europeu. Ainda mais importante, ele conduziu diversas investigações a favor de monarcas europeus, incluindo o rei da Boêmia, o rei da Escandinávia e a família real da Holanda.
Em 1891, no caso “O Problema Final”, Holmes diz a Watson, “Suas memórias, Watson, se arrastarão para um fim no dia em que coroar minha carreira com a captura ou extinção do criminoso mais perigoso e capaz da Europa.” No caso, ocorre o inevitável confronto entre Sherlock Holmes e seu maior antagonista, o Professor James Moriarty, resultando numa trágica queda de ambos das Cataratas Reichenbach, na Suíça. Durante três anos, Holmes e Moriarty são dados como mortos; até que, em 1894, Sherlock Holmes reaparece para o mundo, esclarecendo que a queda fora fatal apenas para Moriarty.
O período em que Holmes ficara ausente (1891-1894) é conhecido como O Grande Hiato, e é objeto de muita especulação entre sherlockianos estudiosos de todo o mundo, abrindo espaço para um grande número de teorias e conjeturas. Segundo o próprio Holmes, durante esse período ele esteve no Tibet, Meca, Khartoum e Montpelier, onde passou alguns meses estudando derivados de coltar.
De volta a Baker Street, Sherlock Holmes trabalhou por mais nove anos na investigação de casos. Certamente, um dos que merecem maior destaque é “Os Planos do Bruce-Partington”, cujo sucesso lhe concedeu uma audiência particular com a Rainha Vitória. Outro caso válido de menção é “A Escola do Priorado”, que tornou-se memorável pelo fato de Holmes ter aceito um cheque de enorme quantia do duque de Holdernesse (o que, de certa forma, contrariava o velho e conhecido comportamento austero de Holmes). Sua atitude surpreendera Watson de tal modo que o doutor ainda comentava o fato no começo do caso seguinte, “Pedro Negro”.
Com o tempo passando, o detetive aproximando-se dos cinqüenta e os abusos com a saúde, nos anos anteriores, pesando cada vez mais sobre seus ombros, o descanso era uma proposta cada vez mais tentadora. No caso “A Segunda Mancha”, Watson surpreende os leitores com a notícia de que Holmes aposentara-se definitivamente de Londres, e estava dedicando-se aos estudos e à criação de abelhas nas colinas de Sussex. Era o início da merecida aposentadoria do Grande Detetive, e término de uma carreira brilhante na arte da dedução. No prefácio de “Seu Último Adeus”, Watson despede o detetive de seu público: “Os amigos do Sr. Sherlock Holmes ficarão felizes em saber que ele está vivo e bem, embora um pouco atormentado por ocasionais ataques de reumatismo. Por muitos anos, vem vivendo numa pequena fazenda sobre as colinas, a cinco milhas de Eastbourne, onde seu tempo é dividido entre a filosofia e a agricultura. Durante esse período de descanso, ele tem recusado as mais tentadoras ofertas para aceitar diversos casos, tendo decidido que sua aposentadoria é permanente.”
Tamanha era a crise na Inglaterra, nos anos que precederam a Primeira Guerra Mundial, que Holmes acabou cedendo aos pedidos do primeiro-ministro, e voltou-se para atender a mais um caso. Com a tarefa de penetrar no esquema de espionagem do mestre da inteligência alemã, Von Bork, Holmes personificou Altamont, um irlandês inimigo do Império Britânico. Lentamente, arruinou toda a rede de espionagem alemã. A operação foi um sucesso e o detetive pôde, finalmente, retornar ao descanso no campo.
Em nenhum lugar do Cânone, a morte de Sherlock Holmes é mencionada. Mas isso é certamente apropriado quando analisamos as criações imortais.
“De quem sempre me recordarei como o melhor e mais sábio homem que já conheci.”
Dr. John H. Watson
Sobre Sherlock Holmes, Em “O Problema Final”




































Realmente um ótimo estudo todo esse contexto sherlockiano