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13 de Maio – Libertação dos Escravos

E o dia dos Pretos velhos na Umbanda!

O 13 de maio é uma data de grande significado no Brasil, marcada principalmente pela Lei Áurea, assinada em 1888, que aboliu formalmente a escravidão no país. No contexto da Umbanda, uma religião afro-brasileira que combina elementos do catolicismo, espiritismo e várias tradições africanas, essa data adquire um significado especial e complexo.

Contexto Histórico e Religioso

Apesar da abolição da escravidão ter sido um marco legal importante, muitos afro-brasileiros continuaram a enfrentar discriminação e desigualdade social. As religiões de matriz africana, como a Umbanda e o Candomblé, foram especialmente marginalizadas e frequentemente associadas a práticas negativas pela sociedade majoritariamente católica e por políticas de estado que promoviam a repressão cultural.

13 de Maio na Umbanda

Na Umbanda, o 13 de maio é um dia que pode ser observado com uma mistura de celebração e reflexão. Embora reconheça a importância da abolição da escravidão, há também um reconhecimento de que a libertação não foi completa, com muitos ex-escravos deixados sem suporte para uma verdadeira integração social e econômica.

Reflexão sobre a Liberdade e a Justiça

Para muitos praticantes da Umbanda, essa data é uma oportunidade para refletir sobre questões mais amplas de liberdade, justiça e igualdade. É um momento para honrar os ancestrais e refletir sobre o legado da escravidão que ainda impacta as comunidades afro-brasileiras.

Trabalhos Espirituais e Homenagens

Em algumas casas de Umbanda, o 13 de maio pode incluir trabalhos espirituais dedicados a entidades que simbolizam a luta e resistência dos povos africanos, como caboclos e pretos velhos, que são espíritos de antigos escravos ou indígenas que trabalham pela cura, proteção e justiça. Estes espíritos são reverenciados por sua sabedoria e conexão com as raízes africanas e indígenas do Brasil.

Ativismo e Conscientização

Além dos aspectos religiosos, este dia também pode ser marcado por atividades de conscientização sobre o racismo e a desigualdade. Muitos terreiros participam ou organizam eventos que discutem a história da escravidão no Brasil e seu impacto contínuo na sociedade.

Conclusão

O 13 de maio na Umbanda é, portanto, uma data de grande profundidade cultural e espiritual, servindo como um lembrete da luta contínua pela justiça e igualdade, bem como uma celebração da resiliência cultural e espiritual das comunidades afro-brasileiras. A data reforça a relevância da Umbanda e outras tradições afro-brasileiras no enfrentamento de questões sociais e na promoção de uma sociedade mais inclusiva e justa.

Crônica: Preto velho na Umbanda

13 de maio – Dia dos Pretos Velhos!!! Saravá, meu pai!!! Saravá minha mãe!!!

Em meio ao incenso que serpenteava suavemente pelo ar e o som suave dos atabaques, uma figura curvada, com passos lentos e uma serenidade imensurável, tomava seu lugar no centro do terreiro. Era um Preto Velho, entidade venerada na Umbanda, trazendo consigo a sabedoria das eras e a paciência forjada na adversidade da escravidão.

Em noite de gira, as velas lançavam sombras dançantes sobre as paredes de barro da pequena sala adornada com imagens de santos e orixás. A figura do Preto Velho, envolta em sua bata branca, parecia oscilar entre o mundano e o espiritual, um elo entre o passado de sofrimento e um presente em busca de consolo e direção.

Na Umbanda, o Preto Velho representa o espírito de antigos escravos que retornam à Terra para auxiliar aqueles que buscam ajuda. São vistos como símbolos de humildade, paciência e compreensão. Suas palavras, sempre carregadas de amor e bondade, parecem fluir de um poço profundo de experiência, oferecendo conselho e conforto aos fiéis que formam uma semi-círculo à sua volta.

“Meus filhos,” começava ele, sua voz rouca embalando o silêncio, “a vida é um fio esticado de aprendizado. Cada um carrega sua cruz, mas também tem o dom de aliviar o peso das cruzes alheias.” Seus olhos, quase ocultos sob as pálpebras pesadas, brilhavam com uma luz que parecia transcendente.

Entre os fiéis, um jovem se aproximava, o rosto marcado pela angústia de recentes desafios pessoais. O Preto Velho, percebendo seu sofrimento, estendia suas mãos nodosas, tocando levemente o ombro do rapaz. “No caminho que escolhe, meu filho, encontrarás pedras, mas lembre-se que até a pedra mais bruta pode ser lapidada até se tornar uma joia.”

A sessão seguia com consultas, conselhos e passes espirituais, cada gesto do Preto Velho parecia banhar a sala com uma aura de calma e resignação. Não era apenas uma noite de práticas espirituais, mas um momento de comunhão profunda, onde o passado doloroso dos escravizados transformava-se em lições de resistência e esperança.

Conforme a noite avançava e os cânticos ecoavam pela casa, o ar parecia mais leve. O Preto Velho, sua presença quase etérea agora, concluía a gira com um sorriso gentil, lembrando a todos da força que reside na fé e no amor. “A bondade,” dizia ele, “é o maior dos poderes, capaz de transformar o mal em bem, a tristeza em alegria.”

Quando os últimos fiéis deixavam o terreiro, levando consigo palavras de esperança e cura, a figura do Preto Velho desvanecia aos poucos, como se absorvida de volta à história, deixando atrás de si um rastro de paz e a promessa de retorno sempre que necessário. No coração da Umbanda, o Preto Velho permanecia não apenas como uma entidade de culto, mas como um símbolo vivo da resiliência do espírito humano.

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