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Vamos Filosofar um pouco????

Vamos lá…. Vamos queimar a cabeça e deixar a caspa virar Mandiopã…..

Lembram do Mandiopã?

O Problema do Mal

É uma questão filosófica e teológica central que questiona como o mal pode existir em um mundo governado por um Deus que é simultaneamente onipotente, onisciente e infinitamente bom. Este dilema tem sido um dos debates mais persistentes na história do pensamento religioso e filosófico, especialmente dentro do cristianismo, judaísmo e islamismo, mas também é relevante em outras tradições religiosas e contextos filosóficos. 

Origens do Problema 

O Problema do Mal surge principalmente em contextos teístas onde Deus é entendido como tendo as três propriedades mencionadas: onipotência (todo-poderoso), onisciência (todo-sabedor) e benevolência (infinitamente bom). O dilema é formulado da seguinte maneira: 

  • Se Deus é onipotente, Ele tem o poder para prevenir todo mal. 
  • Se Deus é onisciente, Ele sabe quando e onde o mal ocorrerá. 
  • Se Deus é benevolente, Ele desejará prevenir todo mal. 
  • No entanto, o mal existe. 

Respostas ao Problema 

Ao longo dos séculos, várias respostas foram propostas para resolver ou abordar esse dilema: 

1. Livre-arbítrio: Uma das respostas mais comuns é que Deus deu aos seres humanos livre-arbítrio, e o mal é o resultado das escolhas livres feitas por pessoas. A capacidade de escolher é vista como um bem maior que justifica a possibilidade do mal. No entanto, essa resposta frequentemente enfrenta desafios relacionados ao mal natural (como terremotos e doenças) que não são causados por ações humanas. 

2. Desenvolvimento de Virtudes: Outra abordagem é que o mal permite o desenvolvimento de virtudes como coragem e compaixão. Em outras palavras, sem enfrentar o mal e os desafios, certos tipos de bens não poderiam existir. 

3. O Mal Como Ausência de Bem: Alguns filósofos, como Agostinho, argumentam que o mal não é uma entidade ou força própria, mas sim a ausência ou privação do bem. Nessa visão, Deus não criou o mal; em vez disso, o mal ocorre quando algo de bom falta ou falha. 

4. Teodiceia e Planos Insondáveis: A ideia de teodiceia envolve justificar as maneiras de Deus perante o mundo. Alguns teólogos e filósofos sugerem que o mal faz parte de um plano divino mais amplo e incompreensível para os seres humanos, onde todos os eventos, incluindo aqueles que são maus, têm um propósito final bom. 

5. O Problema do Mal Como Evidência Contra Deus: No lado mais cético, algumas pessoas usam o problema do mal como um argumento contra a existência de um Deus onipotente e benevolente. Este é um ponto central no argumento ateu e agnóstico, sugerindo que a natureza do mal no mundo é incompatível com um Deus como tradicionalmente concebido. 

Impacto e Discussões Contemporâneas 

O Problema do Mal continua a ser um ponto de intensa discussão e reflexão, não apenas em círculos teológicos, mas também em considerações éticas, políticas e pessoais sobre como lidar com o sofrimento e a injustiça no mundo. As respostas a este problema muitas vezes moldam as visões das pessoas sobre a religião, o propósito da vida e a natureza da moralidade humana e divina. 

Diferentes filósofos abordaram o Problema do Mal de várias maneiras, refletindo uma ampla gama de perspectivas que vão desde tentativas teístas de reconciliar a existência de Deus com o mal no mundo até abordagens mais céticas que questionam a existência de um Deus benevolente. Aqui estão algumas das opiniões e contribuições mais influentes de filósofos ao longo da história: 

1. Agostinho de Hipona (354–430): Agostinho argumentou que o mal não é uma substância ou entidade, mas uma privação do bem, uma falta de algo que deveria estar presente. Ele também defendeu que o livre-arbítrio humano é a causa do mal moral e que os desastres naturais são consequência do pecado original. Vamos falar, mais abaixo, sobre essa consideração em particular…

2. Tomás de Aquino (1225–1274): Tomás também viu o mal como uma privação do bem e destacou a importância do livre-arbítrio. Ele acreditava que Deus permite o mal para trazer um maior bem, uma perspectiva que tenta mostrar que Deus tem um plano maior, muitas vezes incompreensível para os humanos. 

3. David Hume (1711–1776): Em sua obra “Diálogos sobre a Religião Natural”, Hume foi muito crítico em relação à ideia de um Deus onisciente e todo-poderoso dada a presença do mal. Ele argumentou que a existência do mal é incompatível com um Deus que possui as três qualidades de onipotência, onisciência e benevolência, e isso seria uma evidência contra a existência desse tipo de Deus. 

4. Gottfried Wilhelm Leibniz (1646–1716): Leibniz propôs uma famosa teodiceia, argumentando que nosso mundo, apesar de seu mal, é o “melhor dos mundos possíveis” que Deus poderia ter criado. Segundo ele, qualquer mudança no mundo atual poderia levar a um maior desequilíbrio e mais mal. 

5. Alvin Plantinga (1932–): Plantinga, um filósofo contemporâneo, desenvolveu uma defesa do livre-arbítrio, argumentando que Deus, ao criar seres livres, permitiu a possibilidade do mal, mas que o livre-arbítrio é um bem maior. Plantinga sustenta que é logicamente possível para Deus ser onipotente e todo-bondoso, enquanto ainda existe o mal devido ao livre-arbítrio. 

6. J.L. Mackie (1917–1981): Mackie defendeu o argumento da incompatibilidade, afirmando que a existência do mal é lógica e factualmente inconsistente com a existência de um Deus onipotente e totalmente benevolente. Ele argumentou que se Deus existisse, não deveria haver mal algum, o que claramente não é o caso. 

Cada um desses filósofos trouxe uma perspectiva única ao Problema do Mal, influenciando tanto os debates teológicos quanto os filosóficos. Essas discussões continuam a ser relevantes hoje, influenciando como as pessoas entendem a relação entre fé, mal e a natureza do divino. 

Segundo Santo Agostinho

Esta é uma elaboração não apenas centrada na visão de Agostinho para o problema do mal como também encerra em si uma crítica ao mesmo, e para aqueles vieses teológicos que de certa forma coadunam com tal explanação para o mal no mundo. 

O problema do mal se constitui em um dos grandes problemas da filosofia, e nada melhor, neste contexto, de citar Santo Agostinho que inexoravelmente “precisa” elaborar, por assim dizer, um pensamento que unifique um entendimento das idiossincrasias existenciais com fé e razão. 

Podemos então dizer que o mote principal de Agostinho para o mal e seus desdobramentos é a idéia de que o mal e si é necessário para que possamos apreciar melhor o bem. Santo Agostinho observou que, se nada de mal acontecesse alguma vez, não poderíamos conhecer e apreciar o bem. 

É interessante lembrar que ele, antes de ser cristão, foi um maniqueísta e o Maniqueísmo defendia que havia dois princípios opostos:

Deus

Um Deus bom e outro mal e que, portanto, o mal era uma substância. Somente depois, Santo Agostinho vai encontrar uma fantástica solução para a resolução do problema. A solução deste problema por ele achada foi a sua libertação e a sua grande descoberta filosófico-teológica, e marca uma diferença fundamental entre o pensamento grego e o pensamento cristão. Antes de tudo, nega a realidade metafísica do mal. 

Ele constata que o mal não é um ser, não tem caráter ontológico, não tem nada de positivo, enfim ele é um não-ser. Ele diz: “O mal não tem natureza alguma, pois a perda do ser é que tomou o nome de mal”. 

Se todo o bem fosse retirado das coisas boas, nada sobraria, pois o mal não é uma substância como queria os maniqueístas, e assim sendo seria impossível que o mal tenha se originado de Deus, pois Deus é aquele que dá o ser às coisas. 

A Solução de Agostinho

A solução de Agostinho para o problema do mal está relacionada à pergunta “o que é o mal?” 
Em Agostinho temos dois silogismos acerca da inautenticidade do mal: 

Primeiro silogismo: 

  • 1) Todas as coisas que Deus criou são boas;  
  • 2) o mal não é bom;  
  • 3) portanto, o mal não foi criado por Deus. 

Segundo Silogismo: 

  • 1) Deus criou todas as coisas;  
  • 2) Deus não criou o mal;  
  • 3) portanto,o mal não é uma coisa. 
     

Agostinho observou que o mal não poderia ser escolhido, pois ele não era uma coisa a ser escolhida.  

Alguém pode apenas afastar-se do bem, isso é, de um grau maior para um grau menor (na hierarquia de Agostinho) desde que todas as coisas são boas. Pois, segundo ele, quando a vontade abandona o que está acima de si e se vira para o que está abaixo, ela se torna má – não porque é má a coisa para a qual ela se vira, mas porque o virar em si é mau.  

O mal, então, é o próprio ato de escolher um bem menor. Para Agostinho a fonte do mal está no livre arbítrio das pessoas e na contemplação das dimensões do mal que, a saber, são de caráter metafísico, físico e moral. 

Esta observação é parcialmente lógica e parcialmente psicológica. Logicamente, na ausência do conceito de mal não poderia haver uma concepção do bem, tal como não poderia haver uma noção de alto na ausência de uma noção de baixo. Não poderíamos sequer saber o que é o bem se não tivéssemos o mal para servir de comparação.  

Além disso, psicologicamente, se nunca sofrêssemos, tomaríamos as coisas boas por garantidas e não as desfrutaríamos tanto. Como poderíamos reconhecer e desfrutar a saúde se não existisse a doença? Portanto, desejar um mundo que contenha apenas coisas boas é uma tolice. 

No entanto, mesmo que isto seja verdade, explica apenas por que razão Deus poderia permitir a existência de algum mal. De fato, podemos precisar que nos aconteça algumas coisas más de vez em quando, apenas para que não nos esquecermos que somos tão afortunados.  

Mas, existe muito mal no mundo…

Mas isto não explica por que razão há tanto mal no mundo. O problema é que o mundo contém mais mal do que necessário para apreciar o bem. Se por exemplo o número de pessoas que morrem de tuberculose por ano fosse reduzido para metade, isso seria ainda suficiente para nos fazer apreciar a saúde.  

E como já temos que lidar com a tuberculose, não precisamos realmente do câncer, e ainda menos da AIDS, da distrofia muscular, da paralisia cerebral, do Ebola, Covid-19, da doença de Alzheimer e por aí vai. 

A idéia de que o mal é um castigo pela conduta imoral é de caráter teológico e remonta à história da Criação do Gênesis, que nos diz que inicialmente os seres humanos habitavam em um mundo sem mal, mas de repente entram dois protagonistas famosos nesta histeria lúdica chamados de Adão e Eva, e com a ajuda de uma “serpente”, o resto é “estória”. 

O problema de Agostinho passou a ser casar o conhecimento antigo com sua nova crença e mostrar que eram interdependentes. 

Ele também tinha um problema com o Tempo e a Criação. Segundo o Gênese, deus criou o mundo do nada. Mas na filosofia grega havia uma forte objeção a algo ser criado do nada. O que Deus andava fazendo antes de criar o céu e a terra? 

Agostinho não aceitava responder essa pergunta, mas fazia a seguinte piada: “preparando o INFERNO para quem mete o bedelho nos mistérios”. 

 Se não debatermos filosoficamente estes fatos, vai parecer que todo argumento que o refuta é de caráter reducionista e dispensável, dado o caráter próprio do que a humanidade entende por teologia e suas premissas atemporais, dogmáticas e inexoráveis. 

E a Religião?

Dizer que podemos livrar a religião do criticismo filosófico, este engendrado a partir dos grandes iluministas, é um erro crasso, que foge do escopo da própria filosofia em seu sentido “estrito”, o que difere do senso comum e das crenças verdadeiras. Assim como é errôneo dizer que o próprio movimento do cristianismo da era medieval fosse é um movimento que concebe o homem em toda sua totalidade a partir de pressupostos alhures à sua própria natureza humana e pragmática.

Este é um erro oriundo não da tentativa de conceber Deus racionalmente, mas de impor ao homem, a partir de Deus, premissas santificadas que estão além de sua praticabilidade, que o remete à culpa de “nada”, e o amedronta por séculos até os dias de hoje. Não creio que uma lógica axiomática de belos dizeres dogmáticos e religiosos venha a atender os grandes problemas da humanidade que estão, livremente, no acesso do campo da filosofia estrita e questionadora, que é um campo neutro, sempre sendo bombardeado, hoje, pela ciência e a religião. 

Impreterivelmente a filosofia para alguns estancará no período medieval, e me pergunto se ainda assim os coadunados apenas com Platão, Sócrates e Aristóteles, que fomentam Agostinho e Aquino, não reduzirão ao pó os outros vieses filosóficos até a nossa contemporaneidade, que analogamente ao processo dialético histórico, também evoluiu. 

Digo-lhe que há muitos problemas relacionados à atemporalidade e supremacia da verdade a partir da teologia, me parece que de fato ela só pode ser apreendida a partir de sua infantilidade expoente no inconsciente humano, caso contrário o homem, ao invés de ficar “encima do muro do agnosticismo” hoje, verificaria de pronto a improcedência da teologia como forma de controle passional versus a “racionalidade” da mesma. 

Se não forem as questões políticas como debatemos de início aqui, adentraremos em outro debate exaustivo acerca daquilo que é “humanamente constituído” como verdades eternas, e muitas delas que endossam dogmas que não atendem as necessidades do homem moderno, se é que alguma uma vez o atendeu! 

Há de ser compreendido aqui que as questões não são de caráter de refutação do viés religioso a esmo, mas sim de como esta é classificada dentro da teoria do conhecimento, e como pode ocorrer aos doutos da igreja se apoderar de questões que endossam a irrefutabilidade daquilo que é incognoscível, e quem tem o direto de determinar que Deus ora castiga, ora ama; ora perdoa, ora abençoa? Que contribuição estaríamos aqui falando deste “caldinho”? 
Não dá para desatar Agostinho e Aquino nesta produção histórica, mesmo se assim fosse, iríamos descambar para outras questões muito pertinentes que estão inexoravelmente atreladas ao pensar peculiar de sua época mediante uma Europa desmantelada, em que o homem foi incitado a olhar para longe de si mesmo. 

Posted by cogitoinexcelsius in Uncategorized

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Arquivado em Filosofia, História, Religiosidade e Espritualismo