Os anjos, manifestações da pureza e da benevolência do céu, são mencionados nos Antigo e Novo Testamentos e no Alcorão. São tidos como mensageiros de Deus por judeus, cristãos, e muçulmanos e entendidos como seres espirituais e sobrenaturais que fazem a mediação entre Deus e os homens, refletindo a vontade de Deus na terra.
Na Bíblia, os anjos são sempre jovens e belos – símbolo da sua alta condição – e vestidos de branco – símbolo da espiritualidade e pureza.
Os atributos dos Anjos
Todos os anjos – exceto os que decaíram da graça – são santos e sem pecado. Há várias descrições deles na Bíblia; com o correr dos séculos sua representação artística desenvolveu temas comuns, como a auréola, e as asas. O aspecto dos anjos é altamente simbólico e, em muitos casos, os atributos físicos representam qualidades espirituais.
ASAS
As asas do anjo simbolizam sua espiritualidade e sua proximidade com Deus. Também significam sua capacidade de descer do céu à terra para cumprir as ordens divinas.
HARPA
Vários anjos rodeiam Deus no céu e são chamados de ‘exército celeste’. Muitas vezes são representados com instrumentos musicais – especificamente a harpa – como sinal de harmonia criada por seus louvores a Deus. Para Deus, apesar dos vários cargos angelicais, todos são anjos e todos são iguais perante Ele.
TURÍBULO
A fragrância do turíbulo, usado para queimar incenso, transporta as orações para o céu. Às vezes o anjo é representado balançando o turíbulo na direção de um profeta ou santo, indicando veneração.
AURÉOLA
A auréola simboliza a luz e a divindade. Os relatos bíblicos sobre os anjos os mencionam como luminosos ou rodeados de uma espécie de aura; em muitas imagens de anjos (e outras figuras sagradas), isso é representado pela auréola ao redor da cabeça.
A Hierarquia Celeste
O ‘exército celeste’ inclui várias classes de anjos, cada qual com suas funções e seu simbolismo. Dionísio Areopagita, autor grego do século V, diz que os anjos pertencem a três coros: o Primeiro Coro (formado por Serafins, Querubins e Tronos), o Segundo Coro (Dominações, Virtudes e Potestades) e o Terceiro Coro (Principados, Arcanjos e Anjos). Tradições esotéricas cristãs também foram invocadas para se organizar um quadro mais exato. As classificações propostas na Idade Média são as seguintes:
- São Clemente, em Constituições Apostólicas, século I:
- 1. Serafins, 2. Querubins, 3. Éons, 4. Hostes, 5. Potestades, 6. Autoridades, 7. Principados, 8. Tronos, 9. Arcanjos, 10. Anjos, 11. Dominações.
- Santo Ambrósio, em Apologia do Profeta David, século IV:
- 1. Serafins, 2. Querubins, 3. Dominações, 4. Tronos, 5. Principados, 6. Potestades, 7. Virtudes, 8. Anjos, 9. Arcanjos.
- São Jerônimo, século IV:
- 1. Serafins, 2. Querubins, 3. Potestades, 4. Dominações, 5. Tronos, 6. Arcanjos, 7. Anjos.
- Pseudo-Dionísio, o Areopagita, em De Coelesti Hierarchia, c. século V:
- 1. Serafins, 2. Querubins, 3. Tronos, 4. Dominações, 5. Virtudes, 6. Potestades, 7. Principados, 8. Arcanjos, 9. Anjos.
- São Gregório Magno, em Homilia, século VI:
- 1. Serafins, 2. Querubins, 3. Tronos, 4. Dominações, 5. Principados, 6. Potestades, 7. Virtudes, 8. Arcanjos, 9. Anjos.
- Santo Isidoro de Sevilha, em Etymologiae, século VII:
- 1. Serafins, 2. Querubins, 3. Potestades, 4. Principados, 5. Virtudes, 6. Dominações, 7. Tronos, 8. Arcanjos, 9. Anjos.
- João de Damasco, em De Fide Orthodoxa, século VIII:
- 1. Serafins, 2. Querubins, 3. Tronos, 4. Dominações, 5. Potestades, 6. Autoridades (Virtudes), 7. Governantes (Principados), 8. Arcanjos, 9. Anjos.
- São Tomás de Aquino, em Summa Theologica, (1225-1274):
- 1. Serafins, 2. Querubins, 3. Tronos, 4. Dominações, 5. Virtudes, 6. Potestades, 7. Principados, 8. Arcanjos, 9. Anjos.
- Dante Alighieri, na Divina Comédia (1308-1321):
- 1. Serafins, 2. Querubins, 3. Tronos, 4. Dominações, 5. Virtudes, 6. Potestades, 7. Arcanjos, 8. Principados, 9. Anjos.
De todas estas ordenações a mais corrente, derivada do Pseudo-Dionísio e de Tomás de Aquino, divide os anjos em nove coros, agrupados em três trìades:
Primeira Tríade
A 1ª Ordem é composta pelos anjos mais próximos de Deus, que desempenham suas funções diante do Pai.
Serafins
O nome serafim vem do hebreu saraf (שרף), e do grego, séraph, que significam “abrasar, queimar, consumir”. Também foram chamados de ardentes ou de serpentes de fogo. É a ordem mais elevada da esfera mais alta. São os anjos mais próximos de Deus e emanam a essência divina em mais alto grau. Assistem ante o Trono de Deus e é seu privilégio estar unido a Deus de maneira mais íntima, e são descritos em Isaías como cantando perpetuamente o louvor de Deus e tendo seis asas.
O Pseudo-Dionísio diz que sua natureza ígnea espelha a exuberância de sua atividade perpétua e infatigável, e sua capacidade de inflamar os anjos inferiores no cumprimento dos desígnios divinos, purificando-os com seu fogo e iluminando suas inteligências, destruindo toda sombra. Pico della Mirandola fala deles em sua Oração sobre a Dignidade do Homem (1487) como incandescentes do fogo da caridade, e modelos da mais alta aspiração humana.
Querubins
Do hebreu כרוב – keruv, ou do plural כרובים – keruvim, os querubins são seres misteriosos, descritos tanto no Cristianismo como em tradições mais antigas às vezes mostrando formas híbridas de homem e animal. Os povos da Mesopotâmia tinham o nome karabu e suas variantes para denominar seres fantásticos com forma de touro alado de face humana, e a palavra significa em algumas daquelas línguas “poderoso”, noutras “abençoado”.
No Gênesis aparece um querubim como guardião do Jardim do Éden, expulsando Adão e Eva após o pecado original. Ezequiel os descreve como guardiães do trono de Deus e diz que o ruflar de suas asas enchia todo o templo da divindade e se parecia com som de vozes humanas; a cada um estava ligada uma roda, e se moviam em todas as direções sem se voltar, pois possuíam quatro faces: leão, (O leão sempre foi reconhecido como forte, feroz, majestoso, ele é o rei dos animais e essa face simboliza então sua força). touro, (o touro é reconhecido como um animal que trabalha pacientemente para seu dono. Ele é forte, podendo carregar um urso, e conhece o seu dono). águia, (como um anjo, este pássaro voa acima das tempestades, enquanto abaixo delas existem tristezas, perigos, e angústias. Um pássaro ligeiro e poderoso, elegante, incansável) e homem, Esta face fala da mente, razão, afeições,e todas as coisas que envolvem a natureza humana, isso, para alguns estudiosos, significa que eles assim como os homens possuem o livre arbítrio. E eram inteiramente cobertos de olhos, significando a sua onisciência. Mas as imagens querubins que Moisés colocou sobre a Arca da Aliança tinham forma humana, embora com asas.
Os Querubins, para alguns teólogos, ocupam o topo da hierarquia, pois alguns não consideram os serafins como anjos , uma vez que a palavra hebraica para anjo é “malak” (mensageiro) e da mesma forma no grego, anjo é “angelus” (mensageiro) e estas figuras aladas que aparecem, na Bíblia, apenas em Isaías capítulo 6, onde exaltam a Deus mas não comunicam mensagens ao profeta.
São Jerônimo e Santo Agostinho interpretam seu nome como “plenitude de sabedoria e ciência”. São representados muitas vezes como crianças pequenas dotadas de asas, chamados putti (meninos) em italiano. Têm o poder de conhecer e contemplar a Deus, e serem receptivos ao mais alto dom da luz e da verdade, à beleza e à sabedoria divinas em sua primeira manifestação. Estão cheio do amor divino e o derramam sobre os níveis abaixo deles.
Satanás é descrito como o querubim ungido, sendo chamado antes pelo nome de Lúcifer ou Belial.
Tronos ou Ofanins
Os Tronos têm seu nome derivado do grego thronos, que significa “anciãos”. São chamados também de erelins ou ofanins, ou algumas vezes de Sedes Dei (Trono de Deus), e são identificados com os 24 anciãos que perpetuamente se prostram diante de Deus e a Seus pés lançam suas coroas. São os símbolos da autoridade divina e da humildade, e da perfeita pureza, livre de toda contaminação.
Segunda Tríade
A 2ª Ordem é composta pelos Príncipes da Corte celestial.
Dominações
As Dominações ou Domínios (do latim dominationes) têm a função de regular as atividades dos anjos inferiores, distribuem aos outros anjos as funções e seus mistérios, e presidem os destinos das nações. Crê-se que as Dominações possuam uma forma humana alada de beleza inefável, e são descritos portando orbes de luz e cetros indicativos de seu poder de governo. Sua liderança também é afirmada na tradução do termo grego kyriotes [küriotés], que significa “senhor”, aplicado a esta classe de seres.
São anjos que auxiliam nas emergências ou conflitos que devem ser resolvidos logo. Também atuam como elementos de integração entre os mundos materiais e espirituais, embora raramente entrem em contato com as pessoas.
Virtudes
As Virtudes são os responsáveis pela manutenção do curso dos astros para que a ordem do universo seja preservada. Seu nome está associado ao grego dunamis, significando “poder” ou “força”, e traduzido como “virtudes” em Efésios 1:21, e seus atributos são a pureza e a fortaleza. O Pseudo-Dionísio diz que eles possuem uma virilidade e poder inabaláveis, buscando sempre espelhar-se na fonte de todas as virtudes e as transmitindo aos seus inferiores.
Orientam as pessoas sobre sua missão. São encarregados de eliminar os obstáculos que se opõe ao cumprimento das ordens de Deus, afastando os anjos maus que assediam as nações para desviá-las de seu fim, e mantendo assim as criaturas e a ordem da Divina providência. Eles são particularmente importantes porque têm a capacidade de transmitir grande quantidade de energia divina. Imersas na força de Deus, as Virtudes derramam bênçãos do alto, frequentemente na forma de milagres. São sempre associados com os heróis e aqueles que lutam em nome de Deus e da verdade. São chamados quando se necessita de coragem.
Potestades
As Potestades ou Potências são também chamadas de “condutores da ordem sagrada”. Executam as grandes ações que tocam no governo universal. Eles são os portadores da consciência de toda a humanidade, os encarregados da sua história e de sua memória coletiva, estando relacionados com o pensamento superior – ideais, ética, religião e filosofia, além da política em seu sentido abstrato.
Também são descritos como anjos guerreiros completamente fiéis a Deus. Seus atributos de organizadores e agentes do intelecto iluminado são enfatizados pelo Pseudo-Dionísio, e acrescenta que sua autoridade é baseada no espelhamento da ordem divina e não na tirania. Eles têm a capacidade de absorver e armazenar e transmitir o poder do plano divino, donde seus nomes.
Os anjos do nascimento e da morte pertencem a essa categoria. São também os guardiões dos animais.
Terceira Tríade
A 3ª Ordem é composta pelos anjos ministrantes, que são encarregados dos caminhos das nações e dos homens e estão mais intimamente ligados ao mundo material.
Principados
Os Principados, do latim principatus, são os anjos encarregados de receber as ordens das Dominações e Potestades e transmití-las aos reinos inferiores, e sua posição é representada simbolicamente pela coroa e cetro que usam. Guardam as cidades e os países. Protegem também a fauna e a flora. Como seu nome indica, estão revestidos de uma autoridade especial: são os que presidem os reinos, as províncias, e as dioceses, e velam pelo cultivo de sementes boas no campo das ideologias, da arte e da ciência.
Arcanjos
O nome de arcanjo vem do grego αρχάγγελος, arkangélos, que significa “anjo principal” ou “chefe”, pela combinação de archō, o primeiro ou principal governante, e άγγελος, aggělǒs, que quer dizer “mensageiro”. Este título é mencionado no Novo Testamento por duas vezes e a esta ordem pertencem os únicos anjos cujos nomes são conhecidos através da Bíblia: Miguel, Rafael e Gabriel. Miguel é especificamente citado como “O” arcanjo, ao passo que, embora se presuma pela tradição que Gabriel também seja um arcanjo, não há referências sólidas a respeito. Rafael descreve a si mesmo como um dos sete que estão diante do Senhor classe de seres mencionada também no Apocalipse.
Considerado canônico somente pela Igreja Ortodoxa da Etiópia, o Livro de Enoque fala de mais quatro arcanjos, Uriel, Ituriel, Amitiel e Samuel, responsáveis pela vigilância universal durante o perído dos Nefilim, os “anjos caídos”. Contudo em outras fontes apócrifas estes são por vezes ditos como querubins. A igreja Ortodoxa faz de Uriel um arcanjo e o festeja com Rafael, Gabriel e Miguel na Synaxis de Miguel e os outros Poderes Incorpóreos, em 21 de novembro.
Seu caráter de mensageiros, ou intermediários, é assinalada pelo seu papel de elo entre os Principados e os Anjos, interpretando e iluminando as ordens superiores para seus subordinados, além de inspirar misticamente as mentes e corações humanos para execução de atos de acordo com a vontade divina. Atuam assim como arautos dos desígnios divinos, tanto para os Anjos como para os homens, como foi no caso de Gabriel na Anunciação a Maria. A cultura popular faz deles protetores dos bons relacionamentos, da sabedoria e dos estudos, e guerreiros contra as ações do Diabo.
Anjos
Os anjos são os seres angélicos mais próximos do reino humano, o último degrau da hierarquia angélica acima descrita e pertencentes à sua terceira tríade. A tradição hebraica, de onde nasceu a Bíblia, está cheia de alusões a seres celestiais identificados como anjos, e que ocasionalmente aparecem aos seres humanos trazendo ordens divinas. São citados em vários textos místicos judeus, especialmente nos ligados à tradição Merkabah. Na Bíblia são chamados de מלאך אלהים (mensageiros de Deus), מלאך יהוה (mensageiros do Senhor), בני אלוהים (filhos de Deus) e הקדושים (santos). São dotados de vários poderes supernaturais, como o de se tornarem visíveis e invisíveis à vontade, voar, operar milagres diversos e consumir sacrifícios com seu toque de fogo. Feitos de luz e fogo sua aparição é imediatamente reconhecida como de origem divina também por sua extraordinária beleza. Segundo a tradição católica os anjos(mensageiros) são designações de cargos, não de natureza. Para Deus, apesar dos vários cargos angelicais, todos são anjos e todos são iguais perante Ele.



































