Vamos falar um pouco sobre Rock and Roll, aproveitando os textos do Kid Vinil, compilados em seu livro Almanaque do Rock. São vários textos que abrangem os anos de 1955 a 1994. São mais de 50 anos de história para esse jovem que atende pelo nome de Rock and Roll.
As raízes desse tal de Rock and Roll
No início da década de 50, a América se recuperava da ressaca do período pós-guerra. O cenário parecia promissor: o poder aquisitivo do norte-americano melhorava a cada dia e despontava a chamada geração do consumo, para quem tudo era novidade e inspirava prazer. Seus pais ouviam canções românticas de Dean Martin e orquestras como a de Glenn Miller, mas, definitivamente, não era isso que os jovens queriam ouvir. Dessa insatisfação surgiu o ritmo batizado de rock and roll, que expressava a excitação dessa nova geração.
A Receita do Rock and Roll
Na sua forma mais pura, o rock é composto de três a quatro acordes, uma batida forte e continua e uma melodia pegajosa. As raízes do rock and roll provêm de fontes variadas: o blues tradicional, o rhythm & blues (R&B) e a musica country. Adicione também o gospel, o pop tradicional, o jazz, o boogie-woogie e o folk. E misture uma estrutura ao estilo blues, que torna a canção rápida, dançante e atraente.
O rock and roll teve seu modelo criado pela primeira geração de rockers: Chuck Berry, Elvis Presley, Little Richard, Jerry Lee Lewis, Buddy Holly, Bo Diddley, Bil Haley, Gene Vicent, The Everly Brothers, Carl Perkins, entre outros. Nas décadas seguintes, um grande número de artistas foi recriando e redefinindo esse som. Da invasão inglesa, folk-rock, e psicodelia ao hard rock, heavy metal, glam rock e punk, diversos subgêneros foram surgindo, muitos deles ainda conservando em sua concepção musical as raízes das décadas de 50 e 60. A forma de execução foi mudando, mas a essência continuava a mesma.
Brancos ou Negros?
O rock and roll já nasceu polêmico. Quando a juventude da época começou a se revoltar contra o racismo, a musica foi uma forma de unir a todos. Alguns atribuem aos negros a criação do rock and roll nos anos 50. Mas quem será o pai do rock? Na versão negra, podemos considerar Chuck Berry, Little Richard, Fats Domino e Bo Diddley.
O primeiro marco na história do rock foi uma gravação de Ike Turner (o falecido marido de Tina Turner). Ele tinha um grupo de R&B chamado The Kings of Rhythm, que, em maio de 1951, emplacou nas paradas o compacto Rocket 88.
Os primeiros brancos a se aventurarem no contagiante ritmo foram Bill Haley, Carl Perkins, Johnny Cash, Jerry Lee Lewis, Roy Orbison e Elvis Presley, que traziam em suas musicas as origens do hillbilly, uma espécie de musica pré-folk feita no sul dos Estados Unidos, o swing do blues feito pelos negros e uma pitada do jazz e do boogie-woogie – este, outra vertente do blues tradicional. Essa mistura mais tarde passou a ser chamada de rockabilly.
A diferença entre o rock and roll e o rockabilly é que no primeiro entravam elementos do pop feito antes da década de 50 – o chamado pop tradicional – e, no segundo, havia predominância das raízes country e do rhythm & blues.
O selo Sun Records, do produtor Sam Phillips, ajudou a propagar pela América alguns desses ritmos importantes, na
voz de nomes como Johnny Cash, Jerry Lee Lewis e Elvis Presley. Enquanto isso, em chicago, um outro selo chamado Chess Records – uma gravadora de de R&B – apresentava ao mundo os artistas negros do rock and roll, como Chuck Berry e Bo Diddley. Nessa época, houve uma proliferação pelos Estados Unidos de outros selos menores que também fizeram história, como o Imperial e o King.
Um dos caras mais negligenciados pela mídia foi Bill Haley, musico do Estado de Michigan, que já tocava rock and roll desde o início dos anos 50, quando o ritmo ainda nem tinha nome. Sua gravação de “Rock Around the Clock”, por exemplo, aconteceu em abril de 1954, antes de Elvis Presley assinar com a gravadora Sun Records (também em 1954), e de Chuck Berry gravar “Maybellene”, em 1955.
Johnnie Ray também é citado como um precursor do rock and roll, pois tinha um estilo inspirado no R&B, algo entre Frank Sinatra e Elvis Presley. Ele ganhou seu primeiro disco de ouro em 1951 com a musica “Cry” e depois com “Little White Cloud that Cried”. Ganhou o apelido de The Cry Guy (o cara chorão) porque sua performance no palco incluía choro e dramatizações, como se ajoelhar aos prantos. Muitos o consideram uma das grandes influências de Elvis.
Enquanto isso, no Radio…
Alan Freed foi tido como o responsável por ter apresentado o som dos negros para as platéias brancas com o seu programa de rádio Moondog Rock and Roll Party, que começou em Ohio, em 1952, tocando R&B para uma audiência de adolescentes brancos. Como o racismo pegava pesado naquela época, o DJ foi criticado por sua iniciativa e perseguido pelas autoridades.
Um dos momentos marcantes de Freed foi em 1952 quando ele conseguiu reunir uma platéia de 25 mil brancos em Cleveland, tentando entrar num local com capacidade para 10 mil pessoas, para ver um show que trazia praticamente só artistas negros de rock and roll. Claro que ocorreu um grande tumulto, mas o sucesso levou seu programa para Nova York dois anos depois. Ele promoveu outro show histórico em 1955, no Brooklyn Paramount Theater, com Fats Domino, The Drifters, The Clovers e The Heptones and Joe Turner. Mais uma vez, a maior parte da platéia presente era de jovens brancos.
O DJ virou um herói do rádio em toda a América, pois dava força a todos os novos grupos R&B, até os mais obscuros, e se recusava a tocar Pat Boone, cantor que cantava sucessos do rock and roll em versões adocicadas. Ele também apareceu em diversos filmes nos anos 50 interpretando a si mesmo, como Ao Balanço das Horas (Rock Around the Clock), Don’t Knock the Rock e Mister Rock and Roll.
Apesar de tudo, Alan Freed sofreu processos por exigir participações em direitos autorais de certas composições que ele ajudava a estourar tocando-as em seu programa.
Um dos piores momentos de sua carreira foi em 1958, no seu programa de TV Rock and Roll Dance Party, em que ele foi proibido de mostrar o cantor de doop-woop negro Frankie Lymon dançando com uma garota branca.
Diante de tantas acusações e proibições , sua carreira começou a decair , até que em 1959 estourou o escândalo do payola (jabá, propina, guelta), quantia exigida pelos DJs de rádio para tocar as músicas dos artistas. Freed terminou sua vida e sua carreira em 1965, desempregado e alcoólatra.
DOO-WOP
Um estilo importante dentro do rock and roll dos anos 50 foi o doo-wop, uma espécie de exercício vocal feito por grupos de jovens negros e brancos, pobres e, às vezes, ítalo-americanos, que começaram a carreira cantando sem nenhum acompanhamento de instrumentos, naquilo que chamamos a capella. Nessa década, apareceram diversos grupos desse estilo, e alguns conseguiram certo sucesso, como The Crows, The Penguins, The Ravens e The Orioles. Mas outros também merecem destaque, entre eles: The Platters, The Clovers, The Spaniels, Frankie Lymon and The Teenagers, Dion, The Flamingos e The Drifters.
The crows foi o primeiro grupo vocal negro a tocar em rádios de brancos em 1954, com a música “Gee”. Entretanto, um dos grupos mais bem sucedidos foi o the clovers, que emplacou 13 sucessos entre 1951 e 1954. Sem contar o The Platters, grupo de doo-wop que entrou nas principais paradas com “The Great Pretender” em dezembro de 1955.
Músicas de doo-wop que ficaram na história:
“A Teenager In Love” – Dion / “Barbara Anne” – The Regents / “Blue Moon” – The Marcels / “Devil or Angel” – The Clovers / “Earth Angel” – The Penguins / “Little Darlin” – The Diamonds / Love Portion No 9″ – The Clovers / “Smoke Get In Your Eyes” – The Platters / “The Great Pretender” – The Platters / “Why Do Fools Fall In Love” – Frankie Lymon.



































